http://www.youtube.com/watch?v=t-ICpAplSGc
O Dr. Francisco Capelo teve, pelo menos, três objectivos, ao criar a sua colecção - criar um instrumento de poder pessoal, libertar-se da lei da morte e ganhar dinheiro.
Que queria ganhar dinheiro resulta de modo evidente do facto de ter vendido a Colecção, em 2003, à Câmara Municipal de Lisboa.
Que queria libertar-se da lei da morte resulta de modo evidente do que escreveu, em 1999, na folha 24 do livro / catálogo do Museu do Design:
" A troca do dinheiro por objectos de arte permite deslocar o dinheiro por algo que não morre. A morte da pessoa interrompe a possibilidade de exercer poder sobre os outros que permanecem. No entanto, é através dos objectos de arte que permanecem para além da sua morte que a sua fala pode continuar-se a fazer e a influenciar os vivos e esta influência apenas será eficaz se esses mesmos objectos forem de facto e definitivamente subtraídos da esfera das trocas privadas entre as pessoas para a esfera pública"
Capelo não diz tudo, mas sabe que o que diz está incompleto. De facto, o proprietário só continuará a fazer-se ouvir, depois da morte, através dos seus objectos se o seu nome continuar ligado a esses objectos. Daqui resulta imperiosa necessidade de se assegurar que o seu nome permaneça com os objectos .
E esta necessidade pode obrigar o proprietário a um jogo, em que a falta de ética pode passar a ser uma atitude inelutável, e o embuste um meio insubstituível para atingir os fins.
O período citado é simultaneamente o resultado de uma análise, a definição de um objectivo e a balizagem de um percurso.
O Dr. Francisco Capelo é, manifestamente, um homem inteligente que conhece muito bem o meio em que se move.
Para atingir os seus objectivos, Capelo necessita de :
Dar notoriedade à sua Colecção, para a tornar atractiva para o seu cliente alvo .
Este é um "tempo" vital neste processo. É necessário que os jornais falem dela; que a "cultura" a aceite; que seja residente num espaço que, pelo seu prestigio, diga ao povo que é muito boa (se o não fosse não estaria ali).
Capelo conseguiu colocar a Colecção em Belém. Não sabemos as conversa que teve, nem com quem, nem o que prometeu.
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Mas, de certeza, falou do seu amor a Portugal e da sua intenção de doar a Colecção. Seria extravagante que o não tivesse feito quando antes da inauguração do museu, possivelmente em meados de 1999, o escreveu.
".................................
Assim, os objectos que integram o acervo do Museu do Design nunca tiveram por finalidade serem integrados na minha vida privada e subjacente ao seu depósito junto ao Centro Cultural de Belém existe desde já a vontade e a determinação de proceder à sua doação . Não é segredo que este tipo de prática constitui caso relativamente raro em Portugal e sempre fiquei surpreendido por ver nas elites portuguesas, sempre ciosas de um certo e por vezes saudável nacionalismo, uma total incapacidade em materializarem de modo prático esse suposto amor a Portugal , legando às instituições culturais do nosso país os testemunhos necessários à informação e cultura das novas gerações. Aquilo que se detém gira na esfera do privado e só raramente se sente enquanto obrigação e dever ético contribuir para o património colectivo."
É de admitir que estas ideias e emoções tenham pesado na decisão da administração do Centro Cultural de Belém de integrar a Colecção Capelo e a tenham levado a celebrar com o Dr. Francisco Capelo um contrato de tal modo frágil que permitiu que este se libertasse dele quando o entendeu.
J. Vicente Pinto
Ana Joana Rúbio
sábado, 26 de setembro de 2009
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