in Conversas com Mies van der Rohe, Editorial Gustavo Gili, SL
" (...) sei que li em algum lugar, que a arquitectura pertence à época e não ao tempo, pertence a uma época determinada.
Depois de ter entendido isso, já não me importavam os modismos na arquitectura. Eu queria encontrar os princípios mais profundos. Depois de ler e estudar diversos livros, aprendi que vivemos sob a influência da ciência e tecnologia. Eu perguntava-me : "O que é isto? Que resultado procede a este acto? Podemos alterá-lo ou não?" As respostas a estas perguntas deram-me a direcção a seguir e não a que eu gostaria. Às vezes rejeitava coisas que gostava muito, coisas que me falavam ao coração, porém quando tinha uma convicção melhor, uma ideia melhor, mais clara, então seguia essa ideia mais clara. Depois de um tempo, começei a achar que a Washington Bridge era o melhor e mais belo edifício de Nova York. Talvez no começo não pensasse assim, mas foi algo que cresceu paulatinamente. Primeiro tinha que vencer a ideia de apreciá-la como beleza. (...)é uma obra directa, sem rodeios. Talvez eles tivessem alguns conceitos quando fizeram as torres, mas estou a falar de princípios, não de ideias - a de ir simplesmente em linha recta de uma orla à outra do rio Hudson. Essa é a solução directa, a isso me refiro."
"Em alemão utilizamos a palavra Baukunst, que é uma palavra composta por Bau (construção) e Kunst (arte). A arte é o refinamento da construção, isso é o que expressa Baukunst."
Eliana Barreto
5 comentários:
Baukunst é agora um novo conceito no meu vocabulário, mas um conceito essencial. Penso que o poderíamos até ter empregue durante a aula de projecto de hoje, quando falávamos de aspectos na estrutura metálica que nos "chamavam ao coração" (como diz o próprio Mies) e na necessidade futura de ter algo "construível".
Inês Didelet
Achei fundamental quando ele explicou que antes, de considerar a ponte como o melhor edifício de Nova York, teve de vencer a ideia de apreciá-la como beleza...O que pensas disto?Outro dia na aula de Urbanismo, falavamos na sedução de fazer coisas belas e de como esse apelo à beleza obstrui, por vezes, a racionalidade do pensamento...
O Mies van der Rohe falava no "descacar" das coisas até chegar ao âmago...no princípio como ele diz.
Eliana Barreto
Bem penso que há vários níveis de "belo"...se é que isso se pode dizer.Há o belo fácil, imediato, e depois há o "belo essencial". Penso que o Mies começou por recusar o primeiro, e a própria ponte é que o "obrigou" a considerar o segundo.Isto é tudo muito abstracto, mas tem a ver com certas conversas que tive nas minhas aulas de Teoria de Arquitectura com o Prof. Pedro Abreu. Chegámos á conclusão que quando um espaço é realmente ARQUITECTURA, nós passamos a considerá-lo insubstituivel, como uma segunda morada ( e devo insistir que devemos ler o Levinas)
Porque não metes a definição de morada, do Levinas, aqui?Por ser muito abstracto precisamos de o clarificar...quando falas de "segunda morada" é no sentido que o objecto ocupa em nós um espaço familiar?Ou que nós nos sentimos pertencentes a esse espaço?...Vês a minha confusão...Usei a palavra familiar institivamente...Esse conceito de "morada" quando falas pode ter relação com os de familiaridade, de pertença?...
Neste caso do Mies van der Rohe e da Washington Bridge penso que a da beleza está,de facto, relacionada com a eficiência do edifício, com o gesto directo, a atitude inequívoca que expressa na sua construção - "a de ir simplesmente em linha recta de uma orla à outra do rio Hudson."
Eliana Barreto
ainda não consegui encontrar o texto!!!Levinas definia morada como o espaço que nos prepara para o mundo, no qual podemos isolar-nos de tudo.mas esta definição é abrangente: um quadro pode ser uma morada.o Mies nunca pensaria em ponte sem ter em primeiro lugar na sua mente a Washington Bridge, por isso penso que também podemos falar em relações de pertença e de significado.
Inês Didelet
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